Polícia Civil apresenta três casos de mulheres vítimas de crueldade

Morte em Luziânia, afogamento em Guapó e mutilação de clitóris em Goiânia. Em pelos menos dois casos de agressão os companheiros são apontados suspeitos.

Os três casos de violência contra a mulher apresentados nesta quinta-feira (29) pela Polícia Civil em Goiás refletem, mais uma vez, a dificuldade das vítimas em denunciar e deixar seus agressores. Em um dos casos, um homem foi preso suspeito de mutilar a região genital da companheira. No outro, o excompanheiro tentou afogar a mulher em um tanque após uma discussão. Em Luziânia, o corpo de uma jovem de 18 anos foi encontrado depois de três dias desaparecida e a polícia suspeita de crime passional. Apesar de chocar pela brutalidade, casos de feminicídio e violência doméstica não são raros.

Presidente do Centro de Valorização da Mulher (Cevam), Maria Cecília Machado diz que as agressões sofridas pelas mulheres acolhidas no local são diversas e quase sempre para macular a beleza ou a feminilidade da vítima. Maria Cecília lista que mulheres chegam ao Cevam com a cabeça ou sobrancelhas raspadas, com a pele queimada de cigarro, feridas com armas brancas, rostos e seios machucados e até a genitália, como no caso apresentado hoje. “Apesar de tudo isso, não podemos condenar as vítimas. Elas precisam de apoio para sair dessa situação. Não é apenas deixar o agressor e isso gera um conflito muito intenso dentro dela”, explica. O Cevam acolhe hoje 58 mulheres, crianças e adolescentes.

A presidente diz que recebe pedidos de ajuda quase diariamente. “Tenho percebido que cada dia mais recebemos meninas de 14, 15 anos, que já se relacionam, muitas vezes moram com os companheiros e sofrem violência doméstica”, diz. Para Maria Cecília, a mulher precisa ser fortalecida. “Procurar ajuda é o primeiro passo.”

Presidente da Comissão Especial de Valorização da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO), Kátia Paiva diz que a violência doméstica é crime de difícil prevenção pela subnotificação dos registros e porque as vítimas temem deixar seus agressores. “Até que o agressor chegue às situações bárbaras, geralmente já ocorreram excessos e até mesmo crimes”, afirma. Ela destaca que as mulheres não devem se acostumar com a violência. “Nada justifica.”

Suporte

Kátia Paiva informa que a comissão possui meios de dar suporte às vítimas, inclusive já enviou pedido para a Delegacia da Mulher (Deam) para obter mais informações sobre a ocorrência da mulher mutilada pelo companheiro. “Queremos que o caso tenha o apoio jurídico necessário. É uma barbaridade.”

Advogada com mais de 20 anos de trabalho voluntário no Centro de Advogada com mais de 20 anos de trabalho voluntário no Centro de Valorização da Mulher (Cevam), Darlene Liberato já acompanhou diversos casos em que mulheres foram vítimas de crimes bárbaros, entre eles o de Mara Rúbia Guimarães, que teve os olhos perfurados com uma faca de mesa pelo ex-marido. A advogada diz que até chegar a essa situação de extrema violência, Wilson Bicudo já tinha agredido a ex-mulher outras vezes. Darlene ministra palestras sobre o assunto e costuma dizer que “é preciso que as mulheres procurem ajuda e deixem seus agressores”.

Ela defende que a mulher deixe seu agressor a qualquer sinal de violência. No entanto, diz entender as dificuldades enfrentadas pelas mulheres que acabam reatando os relacionamentos com os autores da violência. “A maioria das mulheres que tomam a decisão de voltar a morar com o agressor justifica que não tem condição de se sustentar sozinha”, avalia. Ela acrescenta que os filhos também pesam na decisão. “Além disso, falta suporte até da família para que elas recomecem. Infelizmente, essas mulheres enfrentam diversas dificuldades, mas ao voltar, certamente serão agredidas novamente.”

Corpo de jovem é achado carbonizado

Em Luziânia, a 198 quilômetros de Goiânia, Ana Lídia Ribeiro da Silva, de 18 anos, foi encontrada morta, no distrito do Jardim Ingá. O corpo estava carbonizado.

A Polícia Civil trabalha com diversas linhas de investigação, uma delas é de crime passional. O delegado responsável pelo caso, Maurício Passerini, do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), diz que existe um suspeito, mas que ainda é preciso continuar o trabalho de investigação. As condições da morte deverão ser apontadas em laudos periciais. Ana Lídia estava desaparecida desde o último sábado quando disse à mãe que sairia e voltaria logo.

Em Guapó, a 34 quilômetros da capital, Jhonathan Alves Ferreira Costa foi preso em flagrante após agredir a ex-namorada. Segundo o delegado Arthur Fleury, depois de uma discussão o homem tentou afogar a vítima em um tanque, sendo impedido pelos familiares dela. A mulher foi esmurrada e ameaçada de morte, caso procurasse a polícia. Jhonathan já respondeu a processo pela lei Maria da Penha, mas com outra vítima.

Mulher foi torturada antes de ter o clitóris mutilado

Uma mulher de 26 anos, que não teve a identidade revelada, viveu momentos de terror nas mãos do companheiro, o mecânico Tiago Gomes Alves, de 27, em Goiânia. A vítima foi agredida com murros, chutes, facadas e xingamentos. O ápice da violência aconteceu quando o suspeito mutilou as partes íntimas dela. O ato foi definido pela titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Goiânia (Deam), Ana Elisa Gomes, como uma atrocidade.

Tiago está preso preventivamente. Segundo os relatos da vítima à polícia, Tiago sempre foi muito ciumento e possessivo. À época que moravam em Gurupi, no Tocantins, pelo menos duas vezes, a vítima denunciou o suspeito por violência. Foram pedidas medidas protetivas, mas o relacionamento foi reatado.

No início deste ano, o casal se mudou para Goiás em busca de emprego e uma vida melhor. Na noite de quinta-feira da semana passada, Tiago foi buscar a mulher no emprego e, por uma suspeita de traição, começou a questioná-la. Ao chegar em casa, no setor Aeroviário, iniciou uma sessão de tortura. Agressões A mulher foi golpeada no nariz, enforcada, ameaçada com uma faca e depois esfaqueada na perna e nos braços.

Tiago ainda teria obrigado a companheira a praticar sexo oral nele. “Ela chorava e pedia para ele parar. Ele continuava agredindo com murros no rosto até que ela caiu no chão”, narra a delegada. Em determinado momento, a vítima desmaiou, mas Tiago teria jogado água em seu rosto e dito: “Acorda, senão você vai morrer. Tem que sofrer mais”, disse a vítima em seu depoimento. A mulher teve o cabelo cortado e foi golpeada outras vezes. O suspeito passou a tesoura nas costas, pernas e pescoço deixando marcas de arranhões. Tiago disse à mulher que a mutilaria, mas depois voltou atrás.

Ele deixou a companheira no quarto e ficou na sala o restante da noite. Ao amanhecer, levou a mulher até a sala e cometeu a barbárie. “Levou a mulher para a sala, colocou uma toalha em sua boca e cortou seu clitóris com a tesoura”, relata a delegada segundo o depoimento da vítima. Mais tarde, o casal foi até uma farmácia, segundo o depoimento para simular um clima amistoso, Tiago passeou com a mulher. Porém, armado com uma faca, continuava a ameaçando. Cárcere De acordo com o depoimento da vítima, Tiago a manteve em cárcere durante todo o final de semana. Não permitia que ela falasse ao telefone. Na última segunda-feira, quando foi trabalhar, a prima da vítima esteve na residência do casal e descobriu o caso.

A denúncia foi feita à Deam e, dois dias depois, Tiago foi detido. O suspeito nega que tenha praticado a mutilação e alega que as facadas foram desferidas em legítima defesa. Tiago responde por tortura qualificada pela lesão grave e cárcere qualificado, pode ser condenado a até 16 anos de reclusão.

Fonte: O Popular

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