UFG aponta alvo para tratamento da Covid-19

A descoberta abre portas para a adoção de algumas terapias para tratamento de complicações ligadas à Covid-19

 

Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) identificaram possíveis alvos terapêuticos para o tratamento da Covid-19. A equipe ligada ao Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) observou comportamentos atípicos do sistema imunológico, que, por ativar uma resposta “exagerada” ao novo coronavírus (Sars-CoV-2) em alguns pacientes, acaba contribuindo para formas mais graves da doença, que já matou mais de 660 mil pessoas em todo o mundo – 90 mil delas no Brasil e 1,5 mil em Goiás.

O trabalho, coordenado pelo professor Luiz Gardinassi, descobriu que o organismo de parte dos infectados não consegue produzir uma resposta viral eficiente. Por outro lado, o sistema imunológico deles produz células que mantêm o processo inflamatório prolongado. Assim, se torna um “aliado” do vírus contra a atividade pulmonar.

Gardinassi explica que, apesar de a equipe ter se concentrado na análise do comportamento do vírus no sangue e nos pulmões, o mesmo padrão se repete em outros órgãos, como coração e rins. “Tem sido observado que as mortes por Covid-19 estão relacionadas a múltiplas falhas”, lembra.

A pesquisa foi realizada de forma totalmente computadorizada. Por meio de informações disponíveis em bancos de dados de vários países, como Estados Unidos e China, foram analisados 600 pacientes com Covid-19, Sars-CoV-1 e Influenza. De acordo com Gardinassi, a resposta do sistema imunológico nestas doenças respiratórias é semelhante.

“Há um pico inicial (do sistema imunológico), que depois diminui, por meio da regulação de um mecanismo de regulação”, explica o professor. Mas, por algum motivo ainda não totalmente desvendado, no caso da Covid-19 o corpo, ao lutar contra a infecção, acaba “ativando demais” a resposta em parte dos pacientes.
A principal questão a ser respondida, segundo o pesquisador, é por que em algumas pessoas esse “freio” não funciona. Conforme Gardinassi, algumas doenças podem estar envolvidas, como a hipertensão ou diabetes – que, por não metabolizar a glicose, promove uma oferta abundante de energia para determinadas células.

A descoberta abre portas para a adoção de algumas terapias para tratamento de complicações ligadas à Covid-19, já que não existe, ainda, um medicamento com eficácia comprovada contra o próprio vírus. O professor lembra que há estudos no mundo todo sobre a ação de corticoides com esta finalidade. “Alguns remédios, como a dexametasona, têm se mostrado eficientes para ajudar a frear a reação inflamatória”, lembra.

Além de Gardinassi, a equipe é formada por Camila Souza, Helioswilton Sales e Simone Fonseca. O artigo foi publicado na revista científica Frontiers in Immunology.

Fonte: Jornal O Popular