A exposição Um olhar sobre o espaço da morte. De 26/10 a 24/11

Evento

: Centro Cultural UFG – Câmpus Colemar Natal e Silva, Praça Universitária

: Regional

: 26 Outubro 2017 a 24 Novembro 2017

A exposição Um olhar sobre o espaço da morte visa apresentar obras de dois fotógrafos especialistas em resgatar a história de vida dos falecidos e colocar em evidência as representações imagéticas instaladas em cemitérios, no sentido de prestar-lhes uma homenagem póstuma.

Marco Diniz (fotógrafo mineiro, tradutor e professor de francês) e Samuel Vaz (fotógrafo goiano e historiador) dedicam-se há anos a fotografar, respectivamente, os cemitérios Père-Lachaise, de Paris (França), aberto em 1804, e o de São Miguel, da Cidade de Goiás (Brasil), criado em 1858. O que os move é o interesse de revelar os aspectos peculiares das obras que foram produzidas nesses lugares. As 40 fotografias expostas (50×60) conduzem à compreensão da importância da imagem como objeto histórico que traz dentro de si todo o imaginário cultural de uma época, que agrega uma variedade iconográfica visual de grande teor simbólico, contribuindo assim para que se descortinem, nesses “locais de memória”, as relações afetivas dos parentes sobreviventes para com o morto. Essas marcas visuais necessitam ser preservadas em prol da história, das artes e da reflexão sobre a efemeridade da vida.

O olhar dos fotógrafos nos cemitérios também permite descobrir o valor e a atenção dada ao esteticismo e à beleza dos pormenores existentes nos monumentos funerários e que raramente observamos. Eles foram clicados levando em consideração as relações afetivas dos fotógrafos com os monumentos, em imagens que nos levam à contemplação, ao recolhimento e à reflexão sobre nossos sentimentos acerca da morte na contemporaneidade. Estamos diante de dois olhares voltados para dois cemitérios distantes fisicamente, mas que ajudarão a apreciar os valores inerentes à cultura europeia e brasileira.

“Subdividimos a exposição em dois conceitos advindos das leituras que fizemos das fotografias dos referidos autores. O primeiro trata “As evidencias do tempo e a ação da luz no (in)visível” e o segundo sobre as “Imagens e narrativas no espaço cemiterial”, explica a curadora Maria Elizia Borges.

Sabe-se que o Cemitério Père-Lachaise tornou-se uma espécie de fetiche para fotógrafos de renome internacional, tanto franceses quanto estrangeiros que visitam Paris. Fotografias do local passaram a ser incluídas em diversos livros sobre o cemitério, tais como Le Cimetière du Père-Lachaise, de José de Valverde (2007), que traz imagens captadas por Hervé Hughes, fundador da Agência Hemis e considerado “fotógrafo do mundo” por sua vasta produção; Père-Lachaise, Jardim das sombras, de Nathalie Rheims (2014) e fotos de Nicolas Reitzaum; Mémoire de Marbre. La sculpture funeráire em France 1804-1914, de autoria de Antoinette Le Normad-Romain (1995) e imagens de Myriam Viallefont-Haas, reconhecida por sua adesão a causas humanitárias na década de 1980.

Diríamos que existe atualmente um acúmulo de obras dentro do Cemitério Père-Lachaise, o que muitas vezes impede os transeuntes de verem, admirarem, acharem e registrarem os túmulos desejados. Coube então ao fotógrafo Marco Diniz, com seu olhar de pesquisador perspicaz e em suas andanças aleatórias pelas trilhas do cemitério, captar, em uma de suas séries, a deterioração dos artefatos materiais que se encontram no interior dos monumentos funerários.

As três séries fotográficas de Marco Diniz selecionadas para esta exposição levam-nos a considerar o Cemitério Père-Lachaise como um local que propicia a ruptura do tempo linear, pois ele se abre a uma acumulação de tempo, isto é, ao conceito de heterocronia criado por Michel Foucault (1984). Marco Diniz propôs-se a “se perder” no cemitério, fotografando obras dos séculos XIX e XX.

Já o Cemitério São Miguel, da Cidade de Goiás, foi instalado em 1858, segundo a norma nacional para a criação de cemitérios como instituições públicas. Todavia, sua administração foi entregue aos cuidados do Hospital de Caridade São Pedro d’Alcântara, vinculado à igreja católica, dadas as dificuldades de a sociedade local considerá-lo como um local de enterramento secular. A prefeitura passou a administrá-lo somente a partir de 1925, o que o tornou efetivamente secularizado, como os demais cemitérios do país. Atualmente ocupa uma área de 20.734 metros quadrados, com 40 quadras, intercaladas por ruas paralelas e perpendiculares.

Como fotógrafo, Samuel Vaz procura dialogar, em suas imagens, com o imaginário social construído sobre o local, identificando monumentos funerários de pessoas anônimas que viveram em Goiás e que também contribuíram para dar forma à história da cidade. Para esta exposição foram selecionadas três séries fotográficas, que documentam, respectivamente, as vistas gerais do cemitério, nas quais podemos detectar a natureza plástica do paisagismo; as estátuas de anjos crianças; e exemplares da cruz latina instalados por todo o cemitério.

Segundo a curadora, as atitudes pictóricas dos fotógrafos Marco Diniz e Samuel Vaz nos fazem perceber a ênfase dada às fotografias em primeiro plano, à exploração dos planos diagonais, aos enquadramentos fechados, aos cortes abruptos e ao gosto pela geometrização espacial. As fotografias denunciam os sintomas do desaparecimento, dos resíduos, das sobras dentro de um espaço muito peculiar da sociedade contemporânea. Elas nos permitem também apreender sentimentos provenientes do nosso encontro com o devir da eternidade.

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