Laboratório de Goiânia suspeito de fazer exames com base no ‘olhômetro’ usava reagentes vencidos há 14 anos, diz polícia
Dono da unidade e o biomédico responsável pelos laudos foram presos; delegado afirma que proprietário atuava para receber dinheiro do SUS de forma indevida.
Laboratório Previna, interditado após o proprietário e um biomédico serem presos suspeitos de forjar a realização de exames para receber indevidamente o dinheiro dos procedimentos, utilizava reagentes que estavam vencidos há 14 anos, em Goiânia. De acordo com a Polícia Civil, laudos eram feitos no “olhômetro”, sem o uso de equipamentos técnicos.
Segundo o delegado Izaías Pinheiro, responsável pelo caso, o proprietário do laboratório, o farmacêutico Selim Jorge João, de 70 anos de idade, e o biomédico, Edson Yukazu Ozawa, disseram que a clínica realizava os exames corretamente.
“Ele disse que tem 40 anos de experiência e que o olho dele é melhor do que qualquer equipamento que não estava funcionando lá. Lá eles estão fazendo exames só no ‘olhômetro’, sem passar pelos equipamentos necessários. Ele [o dono] falsificava os laudos para furtar o SUS”, disse o delegado.
O advogado de defesa dos presos, Breno de Freitas Kechichian, disse por telefone ao G1 que as acusações contra os clientes dele são “frágeis”. Em relação aos produtos vencidos, Breno explicou que um estudo está sendo feito para provar que a situação não é como foi exposta pela polícia. “Durante o flagrante, eles não tiveram nem a oportunidade de relatar a forma como os procedimentos foram realizados”, afirma.
Selim Jorge e Edson foram presos na quinta-feira (22), no laboratório, que fica no Setor Aeroporto, em Goiânia. Conforme o delegado, a maioria dos procedimentos feitos na clínica eram pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que mantinha um convênio com a unidade. Segundo o investigador, as amostras de sangue eram colhidas pela faxineira, e o material coletado era guardado em uma geladeira, junto com alimentos.
Os dois devem ser encaminhados à Justiça para audiência de custódia na tarde desta sexta-feira (23).
A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia informou à TV Anhanguera que para ser reaberto, o laboratório terá que passar por adequações e uma nova inspeção.
O dono do laboratório se defendeu das acusações. Ele alega que atua na área há 35 anos e “não entende o motivo da prisão”. O homem afirma que a faxineira da clínica fazia a coleta porque, segundo ele, “tinha curso técnico”.
“Nunca falsifiquei um exame, fazia um por um. A máquina era apenas um auxiliar. Sou um profissional de excelência. Não consigo entender porque fui preso. Ela [a faxineira] tem curso técnico para isso”, afirmou.
De acordo com o coordenador de fiscalização de estabelecimentos de saúde, Carlos Roberto Caixeta, os pacientes eram direcionados pelo SUS para fazerem exames no local. “Neste caso, não tem muito o que o paciente fazer, porque ele é direcionado pelo Sistema Único de Saúde para o laboratório realizar o exame. Ele não tem opção de escolha”, revelou.
O G1 entrou em contato, às 13h09 de quinta-feira, por email, com a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde, que responde pelo SUS, e aguarda um posicionamento do órgão sobre o caso.
Foto: Selim Jorge João e Edson Yukazu Ozawa foram presos em Goiânia (Foto: Silvio Túlio/G1)
Faxineira se defende
A faxineira, que preferiu não se identificar, desmentiu o farmacêutico e disse ao G1, na delegacia, que tem apenas o ensino médio. Ela confirmou que fez a coleta de sangue, mas disse que está arrependida.
“Uma vez ele pediu para eu fazer a coleta, ajudar o Edson. Cheguei a fazer a coleta umas três vezes, mas quando a vigilância sanitária esteve lá no mês passado, falei para ele que não ia mais fazer e pedi demissão. Estou de aviso”, argumento.
Segundo a Polícia Civil, a funcionária vai ser ouvida, a princípio, como testemunha do caso.
Por Murillo Velasco, G1 GO
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