Mil adolescentes dão à luz por mês em Goiás
Dados da Secretaria Estadual de Saúde de 2017, ainda não consolidados, apontam média de um nascimento por hora de filhos cujas mães têm entre 10 e 19 anos
Mais de 13 mil crianças nasceram de mães adolescentes no ano de 2017 em Goiás, o equivalente a pelo menos um nascimento por hora. É o que mostra um levantamento da Coordenação de Informações em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde (SES) de Goiás. São dados que ainda serão consolidados, mas apresentam uma realidade em que mais de mil meninas, de 10 a 19 anos, dão à luz a cada mês no Estado.
São histórias como a da menina de 11 anos grávida, internada desde o último sábado (14) no Hospital Materno Infantil (HMI) em Goiânia com suspeita de H1N1, que chamou a atenção pela gestação precoce. Levando em consideração os últimos cinco anos, houve uma redução desses casos, mas o número ainda é alto. A taxa de 17,25% de nascidos vivos de mães de até 19 anos registrado em Goiás é pouco menor que a média brasileira e vai além do que recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS), que é 10%.
Gerente de Saúde da Mulher, Criança e do Adolescente da Superintendência de Políticas de Atenção Integral à Saúde (Spais) da SES, Nara Letícia Jesus considera que a redução dos casos depende principalmente de mudanças comportamentais e culturais. As alterações vêm a médio e longo prazo, mas destaca: “Toda queda é relevante, pois aponta algum tipo de mudança. De maneira geral, uma mudança da sociedade”.
Para 2018, a expectativa da SES é de que o índice de nascimentos do tipo no Estado caia ao menos para 16%. Mas meta, é claro, é a estipulada pela OMS.
Fatores
Definir os elementos que contribuem diretamente na manutenção ou na reversão deste quadro não é simples. Ainda que condições sociais, culturais e psicológicas estejam entre os pontos destacados por profissionais para traçar políticas e ações em direção a uma mudança de rota, não há receita.
Nos municípios goianos, que têm, em sua maioria, índice de 8,8 a 15,2% de gravidezes adolescentes, são encontrados universos diversos. Segundo Nara, fatores como a dificuldade de acesso à saúde e à educação se destacam entre as ocorrências. “Nós trabalhamos com a realidade de cada município e tentamos entender o que dificulta o êxito das ações nos locais em que a taxa é mais crítica”, explica.
Mestre em Psicologia e com atendimento voltado a adolescentes, Lidiane Passarinho pontua ainda a falta de diálogo e de acesso à informação como elementos determinantes. A ausência de compreensão do funcionamento de métodos contraceptivos, assim como das consequências e da gravidade dos próprios atos, algo inerente à esta fase da vida, levam também à situação. “O diálogo está mais frequente, mas o amadurecimento sexual ainda é um tabu entre as famílias”, diz a psicóloga.
Projeto que existe desde 1999 ajuda a diminuir impacto na gestação
A fim de diminuir os impactos sofridos pelas adolescentes durante a gestação, a Organização das Voluntárias de Goiás (OVG) desenvolve, desde 1999, o Projeto Meninas de Luz, em que são acolhidas mães de 12 a 21 anos, que recebem atendimento multiprofissional, além de apoio na montagem do enxoval e com o transporte.
Desenvolvidas no Centro Social Dona Gercina Borges, no Setor Campinas, na capital, ações como palestras educativas e de iniciação profissionalizante têm como objetivo promover a reinserção social das participantes, o que se dá, também, pelo estímulo do retorno aos estudos, segundo Helca Nascimento, diretora de ações sociais da OVG.
A profissional afirma que o projeto não possui recorte econômico. A única exigência é a comprovação da realização do pré-natal. Assim, cerca de 600 mães são atendidas por ano.
De acordo com Helca, a inserção familiar ganhou destaque no processo. “Se não houver esse apoio, a formação psicossocial perde seu potencial”, diz ela.

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