‘Monitor da Violência’: Goiás registrou 172 crimes violentos em janeiro deste ano, aponta estudo
Levantamento feito pelo G1 em parceria com a USP identificou que, a cada 100 mil goianos, mais de dois foram vítimas da falta de segurança; ferramenta vai apresentar dados oficiais a cada mês.
Um levantamento feito por meio do Monitor da Violência, desenvolvido pelo G1 em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), concluiu que Goiás registrou, no mês de janeiro deste ano, 172 crimes violentos. Os dados oficiais do estado contabilizam todos os homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, que, juntos, compõem os chamados crimes violentos letais e intencionais.
Conforme divulgado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), Goiás teve, no último mês de janeiro, 155 vítimas de homicídio doloso, 13 vítimas de latrocínio e outras 4 pessoas vítimas de lesão corporal seguida de morte. Com base nestes dados, a taxa mensal de crimes violentos a cada 100 mil habitantes foi de 2.51, número acima da média nacional, que foi de 1,57.
O G1 passa a divulgar, por meio do Monitor da Violência, mês a mês, um balanço mensal com os crimes violentos em todos os estados, mais o Distrito Federal. O objetivo é, além de possibilitar um diagnóstico em tempo real da violência, cobrar transparência por parte dos governos.
Quem mata em Goiás?
O G1 ouviu o delegado titular da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), Thiago Damasceno, e a diretora do curso de direito da Universidade Federal de Goiás (UFG), a professora Bartira Macedo. Ambos concordam que o tráfico de drogas é o principal responsável pelos homicídios registrados em Goiás ao longo dos últimos anos.
De acordo com o delegado, a maioria das mortes violentas no estado foram resultado da disputa entre duas facções criminosas.
“Uma facção é oriunda do Rio de Janeiro, outra de São Paulo. Elas comandam o tráfico de drogas em Goiás e são responsáveis pela grande maioria dos homicídios. A causa principal dos homicídios hoje, claro, é a droga, e estas facções matam, orquestram homicídios, em razão de dívida de drogas, em razão de conflito entre estas facções por território”, disse Damasceno.
Para Bartira Macedo, existe, além do fator “tráfico de drogas”, uma informação relacionada ao gênero de quem mata e morre no estado. Segundo ela, os homens matam “consideravelmente” mais do que as mulheres.
“Não existem estatísticas oficiais acerca dos sujeitos ativos dos crimes de violência letal. Mas podemos afirmar que quem mais mata são os homens. Os homens matam muito mais do que as mulheres. Entre os homens é possível apontar os jovens de até 29 anos, uma faixa etária que morre muito, mas também mata muito. Um outro grupo que podemos apontar são os policiais. A violência letal policial é muito alta”.
“Os motivos são os mais diversos, embora não haja estudos específicos acerca dos motivos, nós sabemos apontar os conflitos decorrentes do tráfico de drogas, os crimes patrimoniais, e também a falta de habilidade para se resolver os conflitos interpessoais”, disse a professora.
O delegado Thiago Damasceno, por sua vez, afirmou que a Polícia Civil tem se preocupado em identificar a ligação de homicidas com grupos, para também apontar a motivação das mortes violentas no estado.
“Tratando-se especificamente da nossa atuação, hoje a Polícia Civil atua de maneira intensa no combate a estas facções. A Delegacia de Homicídios tem tentado identificar não apenas a autoria, mas identificar também se o autor tem relação com estas facções e poderia estar agindo a mando destas facções”, destacou.
Políticas públicas
Bartira Macedo destaca que, para que haja redução dos índices de violência em Goiás, é necessário desenvolver políticas públicas de Segurança, além de reforçar o planejamento de ações. Ela afirma que o aumento de conflitos relacionados ao tráfico de drogas nos últimos anos fez com que a Segurança Pública se concentrasse na “guerra ao crime”.
“Precisamos alterar o paradigma de que Segurança Pública é guerra ao crime, que bandido bom é bandido morto, para uma política pública onde haja planejamento, a nível federal, estadual e municipal. Reduzir violência por meio de políticas públicas implica em mais educação, políticas para os jovens, políticas de emprego, diminuição da desigualdade social, aumento de cultura, esporte e lazer”, destacou.
Para o delegado Thiago Damasceno, a solução para os índices de criminalidade também passa pelo reforço da segurança das fronteiras.
“O primeiro passo seria o controle nas fronteiras brasileiras. Hoje não há um trabalho efetivo de fechamento da fronteira, não há um patrulhamento ostensivo nas vias de acesso ao estado de Goiás, e isso acaba facilitando a chegada de drogas e armas ao nosso estado”, argumentou.
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