Polícia faz reconstituição de ação da PM que matou garoto e baleou o pai dele, em Goiânia

Segundo investigação, três militares invadiram casa e assassinaram adolescente de 16 anos. Agentes, que chegaram a ser presos, foram soltos pela Justiça; eles alegam legítima defesa.

A Polícia Civil realizou uma reconstituição da ação de três policiais militares que resultou morte do adolescente Roberto Campos da Silva, de 16 anos, em Goiânia. O pai dele, o mecânico Roberto Lourenço da Silva, de 42, também foi baleado, mas sobreviveu. Os agentes foram denunciados por invadir a residência e cometer o crime. Eles chegaram a ser presos, mas agora respondem em liberdade.

A simulação, que já havia sido adiada por duas vezes, ocorreu na noite de terça-feira (15), no Setor Residencial Vale do Araguaia e foi solicitada pelo Ministério Público e pela defesa dos policiais.

A reconstituição foi dividida em duas partes. Na primeira, somente a família de Robertinho, como era conhecida a vítima, foi ouvida. Em seguida, foi a vez dos policiais darem sua versão sobre o que ocorreu. Os peritos farão um laudo, que será encaminhado à Justiça.

O crime aconteceu no dia 17 de abril. Segundo a família, todas as luzes da casa se apagaram de repente. Roberto e Robertinho foram até a porta para ver o que havia e depois entraram de volta. Neste instante, os policiais Paulo Antônio de Souza Junior, Rogério Rangel Araújo Silva e Cláudio Henrique da Silva, teriam atirado, arrombado o portão e matado o garoto.

Os três foram presos pelo assassinato, mas alegaram ter agido em legítima defesa. Eles foram indiciados pelos crimes de violação de domicílio, usurpação de função pública, abuso de autoridade e fraude processual. Em seguida, o MP os denunciaram pelos delitos. No entanto, eles foram beneficiados por uma decisão judicial e respondem em liberdade.

Família reclama

Familiares se reuniram para acompanhar a simulação. Foi apenas a segunda vez que Roberto voltou à casa após a morte do filho. Ele lamentou o crime e lembrou como foi a ação dos policiais que resultaram no homicídio. “Ele estava baleado na perna e eu no abdômen. Eles foram lá e executaram eles com três tiros nas costas”, recorda.

Já a mãe de Robertinho, a desempregada Sheyla Campos cobrou agilidade na investigação e providência na punição dos envolvidos. Ela afirma que o filho foi vítima de uma “injustiça”.

“É muita falta que ele faz na nossa vida. Está muito difícil. Ele era um rapaz bom e só queria vencer na vida. Foi muita injustiça o que fizeram com ele”, desabafa.

Já o tio do adolescente, Valdir Lourenço, pontuou que a investigação está se arrastando sem nenhum resultado prático até o momento. O parente denunciou ainda que a família está sendo perseguida.

“Isso aí é para ganhar tempo, já era para ter encerrado esse inquérito, mas até agora nada. A gente espera que agora tenha uma definição porque não é possível. Eles já não estão na casa mais porque tinha olheiro observando, vigiando ele [Roberto] lá. Está muito difícil, está complicado. Não só para ele como para a família toda. Todo mundo está amedrontado”, salienta.

Família de Robertinho se reuniu para acompanhar a reconstituição e cobrar providências (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)Família de Robertinho se reuniu para acompanhar a reconstituição e cobrar providências (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Família de Robertinho se reuniu para acompanhar a reconstituição e cobrar providências (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Tiros

Segundo o Laudo Pericial de Morte Violenta, elaborado pela Polícia Técnico-Científica, inicialmente, o adolescente tinha sido atingido por um dos 11 disparos realizados de fora para o interior do imóvel. Quando os policiais entraram no local, ele levou mais três tiros.

De acordo com o depoimento do mecânico, segundos antes de ser alvejado à queima roupa, o filho, conhecido como Robertinho, implorou pela vida dele.

“Não atira no pai não, ele não é traficante não. Meu pai é trabalhador”, relatou.

De acordo com a investigação policial, presidida pelo delegado Marco Aurélio Ferreira, os militares ainda utilizaram de recurso que dificultou a defesa do adolescente e do pai dele.

“Se tratava de três policiais armados com pistolas calibre .40 e .45, que agiram durante o repouso noturno, e mataram e tentaram matar enquanto as vítimas estavam no chão, caídas, sem poder de relação”, defendeu o delegado, no inquérito.

PMs chegaram a ser presos, mas depois foram soltos pela Jusitça e respondem em libedade (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)PMs chegaram a ser presos, mas depois foram soltos pela Jusitça e respondem em libedade (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

PMs chegaram a ser presos, mas depois foram soltos pela Jusitça e respondem em libedade (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Legítima defesa

Ao serem ouvidos, os policiais alegaram legítima defesa. Os três afirmaram que revidaram os disparos, houve uma troca de tiros e, no confronto, pai e filho foram atingidos”, disse o delegado ao G1, antes de concluir o inquérito.

Segundo Ferreira, os policiais também apontaram um motivo para ter entrado na residência. “Eles disseram que receberam uma informação de que no local funcionava um ponto de venda de tráfico de drogas. Porém, não revelaram de onde nem como tiveram acesso a essa suspeita. No local, também não foi encontrado nenhum tipo de entorpecente”, destaca.

A dedução sobre a presença de drogas na residência foi mencionada pela madrasta de Robertinho, que estava na casa. Segundo ela, quando o trio de PMs entrou no quintal, falou: “Vou ensinar a vocês a atirar em polícia” e deram mais tiros.

Quer saber mais notícias de todo o estado? Acesse o G1 Goiás.

Portão da casa de Robertinho ficou com várias marcas de tiros (Foto: Murillo Velasco/G1)Portão da casa de Robertinho ficou com várias marcas de tiros (Foto: Murillo Velasco/G1)

Portão da casa de Robertinho ficou com várias marcas de tiros (Foto: Murillo Velasco/G1)

0 respostas

Deixe uma resposta

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe uma resposta