Cinco pesquisas da UFG que impactam a sociedade

Da física à zootecnia; da química à engenharia. Há diversos projetos da instituição que não podem ficar no desconhecimento

Pesquisador Andris Figueiroa Bakuzis (esquerda) e o professor Marcus Carrião dos Santos

Professor do Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás (UFG), Andris Figueiroa Bakuzis é um dos responsáveis por um estudo que tem um objetivo ousado: provar a eficiência do uso de entrega seletiva de calor por meio de nanoestruturas no tratamento de câncer.

Ao Jornal Opção, o professor, que tem estágio pós-doutoral realizado na Univer­sidade da Flórida Central (EUA), explica que a hipertermia pode ser utilizada em duas modalidades diferentes de terapia usando nanotecnologia: fototérmica e magnética. Na primeira, a nanopartícula é injetada de uma forma não invasiva e, por meio da luz – tecnicamente denominada radiação eletromagnética não ionizante — gerada por um laser de baixa potência via interação com a nanopartícula, absorve a energia e promove um aquecimento na região tumoral.

Já na segunda, o campo magnético interage com os momentos magnéticos das nanopartículas e provoca calor. Neste caso, o custo é elevado em razão de uma maior sofisticação da modalidade, mas as consequências compensam, haja vista que a vida de uma paciente com câncer em estado avançado pode aumentar em até 8 meses, em particular para o caso de glioblastoma, cuja vida média é de apenas 14 meses. “Qualquer tecnologia radicalmente diferente é difícil de ser implementada. Mas, sendo utilizada com maior frequência, a tendência é ser barateada”, diz Bakuzis.

Em conjunto com a professora Elisângela Lacerda, da Biologia, os es­tudos são feitos em camundongos (devidamente aprovado pelo co­mitê de bioética), e visam a geração, entrega e mo­nitoramento do calor, que, se­gundo o cientista, é essencial pa­ra se obter a eficácia no tratamento.

Ademais, a nanotecnologia é capaz de ajudar no diagnóstico e na prevenção de tumores. “As técnicas tradicionais, como quimioterapia e radioterapia, às vezes não conseguem tratar determinados tipos de câncer, mas já está provado cientificamente que a nanotecnologia pode auxiliar na eficácia desses tratamentos e, além disso, a técnica pode também diminuir os efeitos colaterais nos pacientes.”

Bakuzis, que é membro da Society for Thermal Medicine, dos Estados Unidos, relata estar animado com os resultados que pode atingir. Se provado o tratamento de tumores com hipertermia e a entrega de calor ser controlada de maneira adequada, o pesquisador acredita que se pode ativar o sistema imunológico e, portanto, talvez seja possível tratar o câncer independentemente do lugar em que ele estiver.

Nascido em Brasília, o professor lembra que, quando ainda era um jovem cientista, tinha o intuito de montar um grupo fora do eixo Rio-São Paulo para fazer pesquisas de qualidade internacional. “Esta­mos na frente de diversos pesquisadores do mundo e podemos ser um dos primeiros a resolver este problema”, enfatiza. Assim como a pesquisa em questão, existem outras ações dentro da UFG, nas mais diversas áreas do conhecimento, com a capacidade de impactar a sociedade na prática. Confira a seguir.

Investigação forense

Escola de cor que ajuda a identificar a quantidade de ferro no humor vítreo do globo ocular do cadáver

O doutorando em Química Paulo de Tarso Garcia, que irá defender sua tese nesta semana sob a orientação do professor Wendell Coltro, desenvolveu uma técnica que objetiva agilizar o processo de investigação forense. Trata-se de um sensor feito de papel que dosa a quantidade de ferro contido no humor vítreo do globo ocular do cadáver.

A pesquisa, realizada no âmbito do Instituto de Química da UFG, contou com uma amostragem de 15 cadáveres. “Quanto mais velho o cadáver, maior era o nível de ferro”, destaca o químico de 27 anos, que já foi professor da instituição, mas atualmente trabalha como técnico de laboratório.

A ideia é proporcionar ao perito um mecanismo prático e barato com a finalidade de ser utilizado ainda na cena do crime. Em um kit de bolso, são disponibilizados, além do sensor de papel, uma escala de cor laranja que auxilia a identificar a quantidade de ferro. A captura da imagem para a análise foi feita, durante a realização dos es­tudos, por meio de um scanner.

Con­tudo, Paulo garante que se pode usar um celular em um processo de dura 15 minutos.
“O intervalo post mortem é um dado que a perícia não tem. Além de agregar informação ao laudo forense, descobrindo-se o tempo de morte, é possível cruzar dados e, dessa maneira, inocentar ou acusar alguém”, ressalta Paulo, que conduz a pesquisa em parceria com a Polícia Técnico-Científica de Goiás e a Univer­sidade Estadual de Campinas (Uni­camp). Há uma previsão para que os resultados obtidos sejam patenteados já no início do ano que vem.

Alimentação do gado

Thiago Silva pretende difundir a prática da silagem

Doutor em zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa (MG), o engenheiro agrônomo Thiago Carvalho da Silva é coordenador do Grupo de Estudos em Forragicultura (Gefor), responsável por desenvolver uma pesquisa que garante a alimentação do gado em época de seca por meio de um mecanismo denominado silagem.

O referido método tem como finalidade preservar milho, sorgo, capim e cana-de-açúcar, que são produzidos e, posteriormente, colhidos e colocados no silo. A silagem é, então, armazenada em uma estrutura onde os alimentos serão fermentados e conservados, podendo durar até mais de um ano. “A técnica já era conhecida, mas ninguém a fazia por causa de problemas relacionados ao clima e a maquinários”, conta Thiago.

O Gefor promove dias de campo com o intuito de levar aos produtores informações básicas referentes ao tema, mas que não chegam a eles naturalmente, fazendo com que sofram com a alimentação do rebanho em períodos de seca. “A ideia é difundir a prática da produção de silagem.”

Uma vez alimentados nesta época, os animais vão ganhar mais peso e, consequentemente, produzir mais leite. “Queremos gerar impacto no sentido de melhorar o sistema produtivo bovino tanto de corte quanto de leite e aumentar a eficiência da produção.”

Qualidade do leite

O sistema de registros e tubos PVC que é responsável pela cloração da água | Foto: Reprodução

Foi a partir de estudos da qualidade da água na produção da rapadura, em 2015, que Celso José de Moura, professor da Escola de Agronomia da UFG, enxergou a possibilidade estendê-los aos laticínios. A pesquisa ainda está em fase de avaliação de resultado para concluir se a qualidade da água realmente interfere no leite, mas Celso argumenta que avaliações preliminares indicam que sim.

O grupo de pesquisa conta com mais 2 professores, 15 estudantes de graduação e 3 empresas de laticínios, além do apoio do Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Goiás (Sindleite) e da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fundetec). Juntos, já instalaram equipamentos em 15 propriedades por todo o Estado.

Paulo José: “nossa comunidade rural está tomando água de baixa qualidade”

A proposta é usar um clorador para aplicar cloro livre na água. O sistema de custos reduzidos é composto por um conjunto de registros e tubos PVC que possibilitam a passagem de uma parte da água pelas pastilhas de cloro, que, ao final desse processo, juntam-se a uma outra parte ainda não clorada. Com a mistura, a água chega a um depósito cuja concentração de cloro suficiente para eliminar os micro-organismos presentes.

“Os lençóis freáticos estão contaminados e nossa comunidade rural está tomando água de baixa qualidade. Temos inúmeros exemplos de crianças com diarreia. A água clorada resolve esse problema”, pontua o docente. A melhoria da saúde pública é nítida, tanto é que os resultados obtidos atingiram as recomendações de potabilidade da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Desperdício de água

O robô que combate o desperdício de água por meio da inspeção de tubulações | Foto: Reprodução

O engenheiro eletricista Rauhe Abdulhamid é um dos só­cios da RYD Engenharia, empresa incubada da UFG que criou um robô em busca de evitar o desperdício de água. Ao todo, são três sócios – Danilo Sulino Pinto e Yi Lun Lu, além do próprio Rauhe – que obtiveram a assistência da empresa Satosan, de São José dos Campos (SP), no que tange aos aspectos mecânicos.

O experimento atua na inspeção de tubulações com o objetivo de identificar e inspecionar eventuais problemas, como obstruções e vazamentos. Com robustez mecânica para entrar nas tubulações, o robô é controlado por um joystick e, do lado externo, um software faz relatos a partir do que é detectado pelas câmeras nele instaladas.

É comum haver, nas tubulações de águas fluviais, ligações clandestinas, que podem acarretar em vazamento de esgoto e na consequente contaminação da água. Com o robô, dá para identificar em que ponto isto ocorre. Além disso, chama a atenção o fato de que, no Brasil, 37% da água é perdida nas tubulações. “Aumentamos a vazão para que a água consiga chegar do outro lado no volume necessário. Essa água perdida é dinheiro jogado fora”, sublinha Rauhe.

Um dos diferenciais do produto está no preço, aproximadamente 20% mais barato do que os robôs importados de países como Ale­manha e Estados Unidos, que costumam do­minar este tipo de mer­cado no Bra­sil. “Nosso in­tui­to é desenvolver um produto barato e de qualidade. Hoje, estamos desenvolvendo, junto ao Senai, um software com mapeamento 3D e mais preciso para detectar falhas.”

Lançado no início de 2017, o equipamento é vendido para empresas de saneamento e presta serviços para a indústria de laticínios em Minas Gerais. Atualmente, está em fase de negociação com a Com­panhia de Sane­a­mento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para estabelecer uma parceria a fim de despoluir o Rio Tietê. l

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