Canaviais e pistas rurais inserem Goiás na rota do tráfico
Plantações tornam mais difícil a localização de aeronaves carregadas de cocaína, que depois é distribuída por via terrestre; pilotos são treinados pelo narcotráfico
As rotas que passam pelas regiões Sul e Sudoeste de Goiás são mais atrativas para o tráfico nacional e internacional de drogas.
A presença de canaviais, pistas de pouso para pulverização agrícola e relevo plano contribui para a escolha destas regiões pelos traficantes, principalmente os que trazem cocaína por meio de aeronaves. O jornalista Allan de Abreu, autor do livro “Cocaína: a rota caipira”, explica essa preferência: quando a cana está baixa, facilita para quem está na pista de pouso avistar aproximação policial; quando está alta, ajuda a esconder a aeronave e as drogas.
Em seu livro, Abreu fala sobre o percurso da droga que vem da Bolívia e do Paraguai pelo interior paulista e pelo Triângulo Mineiro, com extensão a Goiás. De acordo com ele, esta região é “nevrálgica para o narcotráfico internacional”, sendo o caminho entre os produtores e os grandes centros de consumo, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Pesquisador em tráfico de drogas e vice-coordenador do Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência (Necrivi) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Guilherme Borges ressalta que Goiás também se destaca justamente por ser um Estado que está no meio da rota com áreas pouco povoadas, grande atividade agropecuária e muita concentração de chácaras, que acabam servindo como depósitos.
Quando uma droga é estocada, é por um curto período de tempo, como pontuou o titular da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), Vinícius Teles. De acordo com ele, a droga fica estocada por no máximo 48 horas, sendo rapidamente distribuída para outros traficantes.
A chamada “rota caipira”, percurso das drogas por Minas Gerais e São Paulo, já deu sinais de aparecimento em meados dos anos 80, conforme o professor titular de Relações Internacional da Universidade de Brasília (UnB), Argemiro Procópio Filho, autor do livro “O Brasil no mundo das drogas”.
Pouco tempo depois o trajeto se estendeu a Goiás, sendo justamente uma técnica para fugir das fiscalizações de caminhos já conhecidos, tanto para tráfico por meio de aeronaves ou rodovias. Conforme Procópio Filho, a rota recebeu esse nome pelo caráter interiorano. “E as rotas se alternam constantemente para dificultar a ação policial”, explicou.
O chefe da Delegacia de Repressão a Drogas da Polícia Federal (PF) em Goiás, Bruno Gama, afirma que os traficantes que trazem drogas da Bolívia por meio de aeronaves não escolhem apenas as fazendas da região Sul e Sudoeste para pousar, mas reconhece que a presença elevada de canaviais Sudoeste para pousar, mas reconhece que a presença elevada de canaviais acaba atraindo mais justamente pela dificuldade da fiscalização. “Depende muito do grupo, para onde vai o carregamento. Eles pousam em qualquer fazenda com pista de pouso”, disse. Gama afirma ainda que as quadrilhas param muito em Goiás por ser próximo da Bolívia, país onde é mais buscada a cocaína.
É uma questão de autonomia de voo das aeronaves, que em geral carregam cocaína, por ser um produto mais caro. Com aviões abarrotados de droga, os grupos preferem pousar em Goiás, no centro do País, e depois seguir em caminhões e carros para o sudoeste, que pode abastecer o consumo local e ser exportada, ou Brasília, de onde pode seguir para o nordeste brasileiro.
Bolívia – Jussara
No último dia 26, uma aeronave transportando 635 quilos de cocaína foi apreendida em Jussara, depois de ser interceptada pela Força Aérea Brasileira (FAB). Ela estaria vindo da Bolívia e o destino seria Jussara, fato ainda em apuração pela PF. Na carga, muitos fardos apresentavam a sigla SP, o que poderia apontar que a droga iria para São Paulo.
De lá, ela poderia seguir para o exterior. Gama fala sobre a dificuldade de apreender um avião com droga, sendo de extrema importância a investigação prévia. Toda a ação ocorre de forma rápida, sendo que a aeronave não chega a sequer ter o motor desligado. “Quando a fiscalização aperta de um lado, eles começam a vir para o Estado”, comentou o delegado.
Fonte: O Popular
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